Sim, planejamento e gestão é para todos e para todas as profissões. Abaixo entrevista feita com Manoela Nagib com experiência em cargos de liderança no mundo corporativo e, hoje, viajante diz: "Não sem medo, mas com coragem."
Manoela Nagib diz: Viajante, apaixonada por novas aventuras e plenamente confiante nos planos da vida, deixei o mundo corporativo para me aventurar sozinha em uma viagem ao redor do mundo. Decidi compartilhar minha experiência para inspirar outras mulheres a realizarem seus sonhos e mostrar que viajar pode ser mais simples do que imaginamos.
Manoela Nagib: Eu gosto de relacionar palavras a imagens, e a imagem imediata que vem na minha cabeça quando eu penso em Mercado Corporativo é uma imagem preta e branca - mesmo que eu tenha tido a sorte de trabalhar apenas em empresas com um ambiente super disruptivo. Falta cor, falta espaço pra autenticidade e, pra mim, faltava sentido.
Manoela Nagib: Para enxergar além do que me ensinaram.
Eu não estou só viajando o mundo, estou viajando o mundo sozinha sendo uma mulher brasileira de 27 anos - o que faz com que toda a intensidade do processo de autoconhecimento que essa experiência traz seja elevado a quinta potência.
Eu gosto de usar a metáfora de que viajar pra mim é como retirar as lentes que me colocaram. É como se eu fosse capaz de limpar meu campo de visão e ampliá-lo através do que EU estou enxergando. Acho que a sociedade tem essa mania de ser doutor em coisas que nunca viu, em lugares que nunca visitou, e viajar é uma ferramenta preciosa pra conhecer o mundo como ele é - e não como querem que eu acredite porque essa é a forma mais fácil de me manipular.
Viajar expande seu campo de visão porque me mostra que existem tantas formas alternativas de ser feliz que faz com que eu não me sinta tão incompreendida.
E por fim, nenhuma experiência teve o poder de desenvolver habilidades - técnicas e pessoais - tão fundamentais em mim como viajar fez. Viajando sozinha eu aprendi sobre planejamento, sobre discurso e linguagem corporal, gestão, autodefesa, idiomas, filosofia, política, trabalho em equipe, liderança e humanidade. Nunca experienciei ferramenta de autoconhecimento tão poderosa quanto a viagem sozinha.
Então viajar o mundo - de forma profunda e autêntica - me fornece milhares de estímulos para me conhecer e de quebra ainda expande a minha criatividade, empatia e conhecimento. Pra mim é um investimento como nenhum outro.
Manoela Nagib:
a. Antes de mais nada, acho importante alinhar expectativas: não é porque você está viajando o mundo que seus problemas vão magicamente desaparecer. Se você encara a viagem como uma fuga da realidade, sinto lhe informar que seus problemas vão te acompanhar onde quer que você esteja. Então acredito que a primeira grande decisão seja pensar o porquê você está fazendo esse movimento.
b. Qual é o modelo de viagem que você quer fazer?
(sabático/nômade digital/voluntarismo): acho importante definir o modelo porque isso vai ajudar a determinar questões como orçamento, tempo, lugares, estadias...tudo está conectado. Por exemplo: se você quer viajar e trabalhar remotamente ao mesmo tempo, vai ter menos flexibilidade que uma viagem em tempo integral porque precisará se preocupar com horários/dias de transporte, ficar em lugares com boa conexão...
Resumindo, essa é a descrição de cada modelo:
i) Sabático: é como se fosse um período de férias prolongadas. Existe uma pausa no trabalho, geralmente de vários meses a um ano, em que a pessoa opta por não se dedicar a atividades profissionais. Pode ser um excelente período para repensar o propósito e deixar a criatividade fluir. É o famoso vazio fértil de Gestalt.
ii) Voluntarismo: é a combinação de voluntariado com turismo, o que consiste em trocar algumas horas de trabalho por dia por acomodação e refeição em todos os países do mundo. O programa funciona em lugares como hostels, projetos sociais, fazendas e escolas e existem plataforma específicas para isso, como a WorldPackers e a Workway.
iii) Nômade Digital: é o trabalho de qualquer lugar do mundo. Da mesma forma que você pode trabalhar da sua casa em São Paulo, também pode trabalhar em um hotel em Bali. Funciona tanto para quem é CLT quanto para empresários e free lancers.
c. Dentro desse modelo, qual é o seu nível de conforto? (low budget/ normal/ luxo)
i) Low Budget é o estilo mochileiro, no qual buscamos as opções mais baratas para hospedagem, locomoção e lazer. Esse orçamento costuma variar de U$25 a U$40 por dia.
ii) O estilo "normal" é como se fosse uma viagem de férias que você faz algumas vezes por ano. Existe espaço pra alguns luxos como comer em restaurante, viajar de avião internamente, ficar em hotéis legais, mas não é nada muito fora do normal. Esse orçamento costuma variar de U$40 a U$150 por dia, dependendo da região do mundo.
iii) Luxo: modelo de viagem com orçamento super alto para caber desde jantares e hotéis chiques até locomoções e tours privados.
d. O que você está disposta a abrir mão? Cada escolha é uma renúncia. Da mesma forma que você precisa abrir mão de algumas coisas pra ser CLT em São Paulo, também vai precisar abrir mão de outras pra viajar o mundo. Essas coisas podem ser materiais como por exemplo o conforto da certeza de uma cama quentinha no final da noite, desde outras emocionais como tempo com a família e até relacionamentos. Mas é importante que isso seja uma decisão consciente.
e. Quanto tempo você pretende ficar na estrada? A definição de tempo vai ajudar a desenhar o orçamento necessário.
f. Quais continentes deseja conhecer? Assim como o tempo de viagem, a região do mundo vai estar diretamente ligada ao orçamento e/ou ao conforto. Por exemplo, eu consigo viajar pela Europa com o mesmo orçamento da américa latina, mas o meu tempo de viagem vai ser muito inferior na Europa ou eu vou precisar adaptar o meu nível de conforto.
g. Planejamento Financeiro: Com base nas decisões anteriores, determine o quanto precisa para viabilizar essa jornada, considerando seu atual padrão de economia e o tempo necessário para alcançar esse objetivo.
Manoela Nagib:
a. Preparação de Documentos e Vistos: É fundamental conhecer e reunir todos os documentos necessários para viajar aos destinos desejados, incluindo exigências de vacinação e vistos. Além disso, mantenha cópias de todos os documentos como medida de segurança.
b. Saúde: Faça um check-up médico antes de partir para garantir que está em boas condições e contrate um seguro de saúde para amergências. Alguns países exigem esse seguro na imigração, mas mesmo quando não é obrigatório, nunca é recomendável viajar sem ele.
c. Procuração: Caso tenha assuntos pedentes que possam exigir ação à distância, prepare uma procuração para autorizar alguém a resolver questões em seu nome.
d. Otimize custos: Antes de partir, cancele serviços que não serão utilizados durante a viagem, como planos de telefone, streaming ou academia, ajudando a reduzir despesas desnecessárias.
e. Adaptação à diversidade climática: Conheça as estações do ano nos destinos planejados. Em trajetos com extremos climáticos, a preparação da bagagem se torna desafiadora. Muitos viajantes aderem à cultura da reciclagem, trocando ou doando itens em brechós ou em hostels, onde a prática de "deixe o que puder e leve o que quiser" é comum.
f. Pesquise sobre a cultura, costumes e normas sociais do país que você vai visitar. Eu sou super partidária da ideia de conhecer através das conversas que você vai ter ao chegar, mas é importante ter um pouco de noção da cultura local pra facilitar a interação e ajudar a evitar situações desconfortáveis.
Manoela Nagib: Diarimente eu só controlo onde eu vou dormir e quanto estou gastando, e no final do mês faço um batimento geral.
Estabeleci um orçamento diário de U$30 para todas as despesas, o que orienta minhas escolhas de hospedagem e eventuais luxos.
É uma abordagem de ajustes constantes: em determinados dias, posso gastar mais, como ao fazer um tour, mas no dia seguinte, fico mais atenta para reduzir os gastos e equilibrar as despesas. É um movimento constante de compensação. Se não for assim acho que fica muito engessado.
Manoela Nagib: Acho que é literalmente um dos fatores principais para boas noites de sono. Eu viajo de forma muito intuitiva, decidindo o que faço pelo caminho, e sempre que vou dormir sem saber qual é meu rumo no dia seguinte eu fico extremamente ansiosa.
Eu conheço muitas pessoas na estrada que viajam só pegando carona, fazendo voluntariado e sem nenhum dinheiro de emergência no bolso. Eu admiro demais a confiança na vida, mas reconheço que essa abordagem não se encaixa no meu perfil.
Eu não conseguiria estar totalmente presente e absorver o melhor que essa experiência traz se precisasse me preocupar com o básico pra sobreviver. Assim, um planejamento financeiro sólido no início e a contínua manutenção desse equilíbrio desempenham um papel crucial para garantir a tranquilidade ao longo dessa jornada.
Manoela Nagib: Primeiro porque eu não tenho dinheiro infinito rs
Segundo porque eu quero viajar o máximo de tempo possível com os recursos que eu tenho.
Pensa só: com a mesma quantia de dinheiro você pode literalmente passar um final de semana num hotel de luxo nas Maldivas ou viajar o mundo inteiro durante 18 meses. Tudo depende da forma que você aloca seus recursos e quais são as suas prioridades.
E acho que é aí que entra o planejamento e gestão: entender e acompanhar quais são os seus limites dentro do objetivo que você se propôs, mas também ser uma ferramenta para adaptação dos planos de forma flexível.
Em resumo, uma gestão bem feita é o alicerce que me permite desfrutar plenamente da viagem, reduzindo incertezas e maximizando as experiências positivas ao longo do caminho.
Manoela Nagib: Com toda certeza! Não só para me proporcionar as experiências que tenho tido mas principalmente para não deixar que minha ansiedade me controle.
A estrutura e a previsibilidade proporcionadas pelo planejamento me dão uma sensação de controle e segurança, o que é essencial para equilibrar minha ansiedade e permitir que eu me entregue mais plenamente às experiências da viagem. Isso não apenas me ajuda a estar preparada para o desconhecido, mas também me dá a liberdade de desfrutar da jornada sem ser consumida por imprevistos.
Manoela Nagib: Muitas pessoas presumem que, para abraçar uma vida assim, é necessário abrir mão da segurança. No entanto, eu já havia chegado um ponto da minha vida onde compreendi que a segunrança é, em essência, uma ilusão. Mesmo quando se tem um contrato de trabalho e toda a estrutura de uma vida convencional, ainda assim não temos controle absoluto sobre nada. Se o controle é ilusório, por que não arriscar viver uma vida que verdadeiramente me preenche?
Uma das coisas que precisei renunciar foi o conforto. E quando digo conforto, não me refiro apenas ao aspecto físico de ter um lugar certo para dormir, não estar sempre em trânsito, ou ter a comodidade de comida na geladeira...É mais sobre conforto mental. Uma vida em constante movimento traz desafios que não são óbvios à primeira vista: é necessário adaptar-me a diferentes fusos horários, compreender as nuances da conversão de moedas, planejar diarimente onde ficarei e como, administrar um orçamento sem uma renda fixa, lidar com as flutuações emocionais da saudade... Conscientemente, essa foi a parte que decidi abrir mão para abraçar o estilo de vida de uma viajante.
Quanto à saudade, também abri mão do meu relacionamento. Tive a sorte de ter ao meu lado alguém incrível, que apoiou meus sonhos desde o início. Na minha perspectiva, manter um compromisso à distância não fazia sentido diante do que estou buscando. A separação foi uma decisão pensada e dolorosa, mas necessária para este momento.
Uma lição valiosa que tenho aprendido é que nossos laços mais profundos não se desfazem quando optamos por viver de uma maneira diferente, seja temporário ou permanentemente. As pessoas mais significativas para mim continuam sendo parte integral dos meus dias, então sinto que apenas abri mão da proximidade física.
Manoela Nagib: Eu diria que nada revolucionou tanto a minha vida, mudou tanto a forma que eu enxergo o mundo, trouxe luz para o que eu valorizo e fez com que eu me aproximasse tanto de mim mesma.
E nesse sentidoé importante lembrar que viajante é diferente de turista. Não dá pra querer ser viajante sem se abrir pro desconhecido, sem se despir dos nossos preconceitos e aceitar que somos ignorantes em relação a muitas coisas. É mais do que visitar pontos turísticos; é imergir na cultura, na história e nas experiências que revolucionaram nossas vidas.
Eu acho que viajar de verdade é viajar de forma autêntica, e isso só é possível através de uma conexão genuína com as pessoas que ali vivem e com o compromisso de fazer um mergulho em nós mesmas.
Manoela Nagib: Tem um poema da Rupi que eu amo e que diz o seguinte:
estou de pé
sobre o sacrífico de milhões de mulheres antes de mim
pensando no que posso fazer
pra deixar essa montanha ainda mais alta
pra que as mulheres que vierem depois de mim
possam ver mais longe
Essas linhas tem tudo a ver com o legado que quero deixar. Eu comecei a compartilhar essa viagem com o objetivo de enconrajar mulheres a viajarem sozinhas, mas hoje vejo que a viagem é apenas a ferramenta que funcionou pra mim e que não necessariamente vai funcionar pra todo mundo. Se eu conseguir encorajar mulheres a viverem seus próprios desejos, a sonharem com uma vida para além do casamento e da submissão, a romperem com essa postura cúmplice de um sistema patriarcal e perceberem que são capazes de absolutamente tudo, eu posso morrer feliz.
DSV: Indique para nós: livro, filme e/ou seriado e um lugar especial
Manoela Nagib:
Livros:
Do For Love: o que acontece quando você une sua paixão por viajar com a vontade de ajudar;
A Biblioteca da meia noite
Documentário: O Caminho para felicidade
Filme: Capitão Fantástico
Dois lugares especiais: Chapada dos Veadeiros e Tailândia
Três sites importantes para viajantes: HostelWorld, Rome2Rio e Tik Tok (tem muuuita coisa boa de viagem por lá!)
Onde encontrar Manoela Nagib:
Instagram: @manoelanagib
Tik Tok: @tevejonaestrada
Instagram: @svdanielle
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