Este é um blog dedicado a Planejamento e Gestão isso quer dizer: Educação estratégica e gerencial. Aqui, você encontrará várias indicações de livros, pois ler é essencial para todas as profissões. A leitura e a atualização constantes são fundamentais para o desenvolvimento profissional e para a tomada de decisões mais acertadas. Especialmente para quem trabalha com planejamento e gestão, áreas que são o foco principal do blog, a leitura é ferramenta valiosa. Profissionais que atuam nesses campos, geralmente, lideram equipes e precisam estar sempre bem informados e preparados.
O Calendário do Advento de livros celebra a contagem regressiva para o Natal, proporcionando diariamente uma nova recomendação de leitura de 1º a 24 de Dezembro. Esta iniciativa visa incentivar a leitura, um dos valores do nosso blog, especialmente importante em um cenário onde mais da metade dos brasileiros não lê livros, conforme aponta a pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil". Com o apoio da Disal Distribuidora, transformamos essa tradição em uma jornada literária enriquecedora, ideal para expandir sua biblioteca pessoal e encontrar inspiração para o próximo ano. Junte-se a nós nessa celebração do amor pela leitura!
Em 1914, viveram em Zurique, sem se conhecerem, três homens que, cada qual no seu campo, desmantelaram a ordem estabelecida no plano da ciência, da política e da literatura: Albert Einstein, que inovou a Física; Wladimir Illich Lenin, que implantou as bases de outra concepção sócioeconômica, e, finalmente, James Joyce, que abalou a estrutura da ficção, alterando o uso da linguagem como forma de expressão artística e derruindo todo o edifício tradicional do romance.
"Retrato do artista quando jovem" apareceu, primeiramente, em capítulos, na revista The Egoist, de Ezra Pound. Trata-se de uma obra-prima do romance autobiográfico, tem como herói Stephen Dedalus, alter ego do autor, e transcorre em Dublin - cidade - cenário-personagem e obsessão de Joyce. Mas é muito mais do que um dramático romance pessoal.
É antes a dilacerante, impiedosa, torturada, minudente e gradativa história da opressão que sobre o homem exercem o seu meio, a educação, a família e a ordem vigente; e as incertezas, dúvidas e frustrações que cercam os esforços empreendidos para a descoberta da liberdade, para fugir aos labirintos do conformismo, para a revelação do próprio sentido de ser e do ser. Não sem razão, Dedalus quer ir viver a vida longe da família e dos amigos, para aprender "o que o coração é e o que sente".
"Se bem-vinda, ó vida!" - exclama ao pretender "ir ao encontro, pela milionésima vez, da realidade da experiência, a fim de moldar na forja da minha alma a consciência incriada da minha raça." Mariano Torres
A obra de James Joyce ocupa posição fundamental na literatura do século XX e, com Ulisses certamente e Finnegans Wake provavelmente, constitui um marco miliar na ficção e em particular num gênero, o romance, que com ele teria atingido feição conclusiva e fatal, se os próprios germes de extinção que lançou não tivessem depois revelado germes da ressureição. O que é ponto pacífico é que um leitor qualificado não se situa na criação literária contemporânea se não toma pé na obra de Joyce.
Esta pode ser definida, na sua linha evolutiva, por três momentos: o dos contos de Dublinenses, publicado em 1914, mas com materiais que remontam a uma década ao menos para antes; o de Ulisses, de 1922, e o de Finnegans Wake, que toma feição definitiva em 1939, dois anos antes da morte de Joyce.
Esta pode ser definida, na sua linha evolutiva, por três momentos: o dos contos de Dublinenses, publicados em 1914, mas com materiais que remontam a uma década ao menos para antes; o de Ulisses, de 1922, e o de Finnegans Wake, que toma feição definitiva em 1939, dois anos antes da morte de Joyce.
Até o Ulisses, a obra de Joyce, embora pontilhada de surtos premonitórios, é obra essencialmente canônica, inscrita na deriva da alta tradição da prosa inglesa; com Ulisses, há a convulsão, na visão da realidade que ele buscou agudamente - a de fora e a de dentro - e na expressão dessa realidade, o que o levou a transfigurar a própria língua inglesa (e qualquer língua de cultura pela lição de eficácia daí derivada).
Por isso, a iniciação na obra de Joyce, quer no original, quer nas traduções, é às vezes tarefa inglória, pois muito leitor não consegue transpor o cabo da Tormentas representado por Ulisses, tantas são as reais e aparentes violações que nela encontra aos códigos a que estava afeiçoado. Há, assim, uma como que necessidade didática de preparação para a entrada nesse universo.
Se Dublinenses dá a chave para o tratamento de certos personagens e certos meios (Dublin é a cidade do homem moderno, o labirinto de concentração de todos os mitos e sofrimentos e mediações com que os homens se afeiçoam e massacram mutuamente, lutando por preservar uma identidade que não sabem onde encontrar), um livro seu há que é, sem equívoco algum, o preâmbulo de Ulysses. Esse livro é "Retrato do artista quando jovem, também publicado em 1914."
Nele estão contidos em germe os condimentos e materiais básicos da criação artística fundamental de Joyce. Nele - malgrado a linearidade da "narração" - repontam os problemas do espírito, o aleatório do curso da vida, a luta do indivíduo, a emergência da pessoa, a vocação e todos os seus meandros de obstáculos, e o mito da busca da arte e da beleza e do sentido, quando não da vida. E, até do ponto de vista "técnico", nele repontam os primeiros bons esboços do monólogo interior, que se transformaria em meio por excelência para a construção de Ulisses e, requintadamente, para a captação onírica de Finnegans Wake.
Daí a importância de "Retrato do artista quando jovem". Essa importância, porém, não pode ser aferida apenas em função do seu caráter preambular. É que o romance, ou novela, ou o que se quiser, vale como obra em si, exemplo notável desses "romances de formação", o Bildungsroman, de que os artistas se liberam, como que por catarse, para depois, maduros, poderem empreender a caminhada de edificação de sua obra com valores constelados em função de uma necessidade interior guiada por uma utopia, quer de esperança, quer de desespero, quer de comovida resignação entre a possível beleza de viver que os homens, buscando-a, dilaceram.
Que os leitores ou candidatos a leitores de Joyce se rejubilem, por conseguinte, com esta reedição, cuja tradução se deve ao nome consagrado de José Geraldo Vieira.
Antônio Houaiss
Instagram: @svdanielle
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